Shiro Ishii foi o Mengele japonês
Numa Manchúria ocupada pelo Japão, o médico Shiro Ishii dirigiu a sinistra Unidade 731, na qual se faziam experiências com cobaias humanas. Entre 1936 e 1942, milhares de adultos e crianças foram sacrificados para testar armas biológicas. Em 1995, o jornalista Nicholas D. Kristof, do New York Times, entrevistava um agricultor japonês de 72 anos, chamado Takeo Wano, que gracejava enquanto servia o bolo de arroz feito pela sua mulher. Enquanto o repórter tomava notas, Wano mudou repentinamente de tema e, com uma tranquilidade espantosa, explicou-lhe pormenorizadamente como era a sensação de abrir um homem de trinta anos que está atado a uma cama, nu, e dissecá-lo vivo, sem anestesia. “Quando peguei no bisturi”, contou o agricultor, “ele começou a guinchar. Abri-o, desde o peito até ao estômago, e ele gritava terrivelmente, enquanto o rosto se deformava, devido à agonia.” A barbárie não constituiu um ato isolado cometido por um médico louco: fez parte de um programa completo de investigação sobre armas biológicas iniciado pelo Japão em 1930. Os oficiais nipónicos, encabeçados pelo médico Shiro Ishii, general do Exército Imperial, pensavam que esse tipo de arsenal, dado que fora proibido pela Convenção de Genebra de 1925, devia constituir uma formidável ferramenta de guerra. Então, Ishii, um protegido do ministro do Exército, Sadao Araki, pediu para criar um grupo secreto de investigação nesse campo. Foi assim que nasceu a Unidade Togo, que se iria instalar na fortaleza Zhongma, um campo de prisioneiros situado em Beiyinhe, cem quilómetros a sul da cidade de Harbin, na Manchúria. Quando o campo foi encerrado, em 1935, Ishii transferiu o seu equipamento para o distrito de Pingfang, a 24 km de Harbin. Ali, foi construído um novo centro, muito maior, formado por 150 edifícios distribuídos por seis quilómetros quadrados. Em 1936, o imperador Hirohito integrou por decreto a unidade no exército de Kwantung, sob o nome oficial de Departamento para a Prevenção de Epidemias e Purificação da Água. Na prática, seria conhecida por Unidade ou Esquadrão 731. Estima-se que, de 1936 a 1942, entre três e doze mil homens, mulheres e crianças foram mutilados, torturados e assassinados em nome da investigação biomédica. Eram conhecidos pelo nome coletivo de marutas (“toros” ou “cepos”), pois foi dito às autoridades locais que as instalações de Harbin correspondiam a uma serração. Os “toros” eram membros da resistência, prisioneiros de guerra ou detidos pela Kempeitai, a polícia militar japonesa, por atividades suspeitas, e incluíam idosos, bebés e mulheres grávidas. Ishii tinha consciência de que as tarefas que desempenhava se distinguiam por uma total ausência de ética, como deixou claro num dos seus discursos de boas-vindas aos novos membros: “Para um médico, constitui uma missão divina tratar os doentes. O trabalho em que nos vamos empenhar é completamente oposto a tais princípios.” Estava tudo estruturado para alimentar os desejos dos investigadores: se algum dos médicos necessitava de um cérebro ou de um pulmão, o órgão pretendido era extraído de um prisioneiro. As atrocidades da Unidade 731 só começaram a tornar-se conhecidas meio século depois da guerra, embora grande parte da documentação ainda continue sob sigilo. Os historiadores estão de acordo em assinalar que se tratava de uma programa de investigação inteligentemente concebido, cujas descobertas salvaram a vida a numerosos soldados japoneses, pois o objetivo de muitas experiências era desenvolver tratamentos para os problemas médicos que afetavam o exército nas zonas ocupadas. Por exemplo, demostraram que a melhor forma de tratar os membros congelados era introduzi-los em água a mais de 100 ºC, mas sem ultrapassar os 122 ºC.
Todos vão pagar pois Deus é justo !
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